Vivemos hoje num tempo e num contexto sui generis para a nossa geração. Com efeito, já o sabemos, a pandemia provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 ou COVID-19, está a deixar marcas profundas em várias dimensões da sociedade.

Para as Ciências Sociais em geral e para a sociologia em particular, trata-se de uma circunstância estudada e já documentada na literatura científica, tendo constituído matéria de reflexão por parte de alguns vultos consagrados da sociologia contemporânea, como são os casos do alemão Ulrich Beck e do britânico Anthony Giddens. Para estes autores, vivemos, há algum tempo a esta parte, o que pode ser denominado por “Sociedade de Risco”, cujo argumento central, de forma sintética, nos remete para a ideia de que as origens e as consequências de grandes problemas sociais, ambientais, entre outros, constituem um traço estruturante da atual sociedade. Ao mesmo tempo, esta “Sociedade de Risco” apela à construção do que pode ser designado por “uma cultura de risco”, isto é, uma forma de pensar e de agir, apoiada em conhecimento (científico), de modo a prevenir situações de risco e a fomentar a autoproteção em caso de perigo. Dito de outro modo, depreende-se desta abordagem a necessidade permanente de lidar com os perigos e as inseguranças geradas nos contextos e nos processos da própria modernização de que somos atualmente protagonistas.

É neste contexto de necessária preocupação com a segurança e com o futuro que se apoia a noção de “risco” e que, inevitavelmente, nos convoca para uma reflexão coletiva sobre os novos modos de vida que temos de, progressivamente, ir interiorizando no nosso quotidiano.

Ora, é justamente neste particular que a Ciência é chamada a intervir. A partir das múltiplas áreas de competência técnica e científica que o universo de investigadores (sediados em instituições de ensino superior, unidades de investigação, laboratórios acreditados e equipas e redes de pesquisa) podem, e devem ser, parte ativa na procura e no ensaio de soluções para mitigar os riscos da pandemia que atravessamos. Uma prova disso mesmo foi o lançamento de diretrizes e de várias calls que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) dirigiu ao sistema científico nacional, incentivando a participação ativa dos investigadores e das suas unidades de I&D a contribuírem para a procura de respostas aos problemas da pandemia, sobretudo direcionadas para as respetivas comunidades de influência territorial.

Algumas dessas iniciativas passam por: novas ações de diagnóstico desenvolvidas por empresas, laboratórios e unidades de I&D nacionais em estreita colaboração com unidades de cuidados de saúde; iniciativas de estímulo à conceção e produção de equipamentos para situações de emergência, incluindo ventiladores; doação de vários tipos de equipamentos e utensílios de apoio a hospitais e unidades de cuidados de saúde, por parte de instituições de ensino superior, de ciência e tecnologia, entre outras. Todas estas iniciativas surgem associadas à criação de uma plataforma, da responsabilidade da FCT, de mobilização de investigadores, denominada “SCIENCE 4 COVID19”, assim como um novo concurso de apoio a projetos e ideias de I&D, “RESEARCH 4 COVID19”.

Neste âmbito, também o Politécnico de Portalegre, através das suas unidades de I&D e com destaque para o VALORIZA, consciente da sua missão institucional e da sua responsabilidade social junto da comunidade em que opera, na qualidade de entidade produtora e difusora de conhecimento, tem contribuído, à sua escala, para ajudar a reduzir o impacto da referida pandemia na comunidade local.

A preparação de algumas candidaturas (autonomamente ou em parceria com entidades ligadas à área da Saúde); a produção de viseiras e de álcool gel para apoio às entidades da região que estão na linha da frente do combate à pandemia; a preparação de pesquisas e inquéritos, direcionados para determinados setores da sociedade e da economia, como por exemplo na área da educação, do turismo, entre outras, para melhor aferir as especificidades e os impactos da COVID-19 nos processos de trabalho e nas práticas profissionais, atestam a forma proactiva e empenhada que a comunidade de investigadores do nosso Politécnico tem assumido nesta sociedade (de risco), que a todos convoca para uma intervenção informada e esclarecida, face a um problema com múltiplos efeitos sociais, económicos, de saúde pública e outras consequências ainda desconhecidas.

No Politécnico de Portalegre, em particular no domínio da I&D, não ficámos parados. Pelo contrário, estivemos juntos (e continuamos juntos) neste esforço coletivo, relacionado com uma nova realidade para a qual a ciência pode e deve ser uma voz ativa e parte integrante da(s) solução(ões) a testar e a implementar na comunidade.

João Emílio Alves

Pró-Presidente para a Investigação & Inovação do Politécnico de Portalegre